Pular para o conteúdo principal

Povo Munduruku repudia decreto do governo do Pará sobre Protocolos de Consulta

Foto de Anderson Barbosa, durante Assembléia dos Munduruku do Médio Tapajos, na Aldeia Dace Watpu

O texto abaixo é a íntegra da carta-manifesto da associação dos munduruku da região do Médio Tapajós:

A Associação Indígena Pariri, representante das onze aldeias Munduruku do Médio Tapajós, expressa seu total repúdio ao Governo do Estado do Pará e ao Decreto nº 1.969, de 24 de Janeiro de 2018 que institui o Grupo de Estudos para criar procedimentos de Consultas Prévias, Livres e Informadas a povos e populações tradicionais. O decreto afirma que observa a Convenção 169 da OIT, mas não realizou a consulta aos povos indígenas sobre a própria medida administrativa decretada para discutir Consulta Prévia. Não aceitamos essa dissimulação do governador Simão Jatene, que sugere observar a Convenção 169 e o direito à consulta dos povos e populações tradicionais e indígenas, mas cria de forma arbitrária e autoritária um Grupo de Estudos do qual não fazemos parte e cujo ingresso fica submetido à deliberação da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos, que nunca teve qualquer diálogo com nosso povo Munduruku e com outros povos indígenas e comunidades ribeirinhas e quilombolas do Tapajós. Fazem parte desse grupo também a Procuradoria-Geral do Estado do Pará, a Secretaria de Estado de Integração de Políticas Sociais, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade e a Casa Civil. Todos esses órgãos estão completamente distantes das realidades dos povos indígenas e comunidades tradicionais, de seus modos de vida e de suas florestas e rios, seus representantes trabalham confortáveis no ar condicionado para servir aos interesses econômicos de grandes empresas aliadas ao poder público do Estado do Pará em seus esquemas corruptos e saqueadores da Amazônia.


A Convenção 169 não nos dá apenas o direito a sermos consultados sobre projetos já prontos, mas nos dá o direito de definirmos nossas prioridades de "desenvolvimento". Nossos caciques chamaram desenvolvimento de rio livre, água limpa e floresta em pé. Nós não somos "objetos" da Convenção 169, nós somos sujeitos-atores principais desse mecanismo que garante nossos direitos e devemos ser os primeiros consultados para essas discussões. A Consulta ao povo Munduruku deve ser feita de acordo com seu Protocolo, assim como deve acontecer com outros povos e comunidades tradicionais que já construíram seus Protocolos. Cada povo e comunidade tem um jeito de pensar, se organizar e tomar suas decisões e nós exigimos respeito a essas diferenças.

Não fizemos o nosso Protocolo de Consulta para ser "recolhido" por um grupo de estudo que vai criar um Plano de Consulta para impor mais uma vez projetos de morte sobre nossas cabeças. Nós, Munduruku, sabemos o que é o nosso bem viver e temos propostas alternativas ao monocultivo e exploração de minério venenosos e assassinos dos pariwat. Exigimos ser ouvidos antes que os projetos sejam pensados pelos Governos e empresas. Nosso Protocolo de Consulta é o único procedimento que aceitamos e ele diz que

Nós, Munduruku, povos indígenas e ribeirinhos do Tapajós, já mostramos mais de uma vez que não deixaremos nenhum político nos enganar. Cancelamos o licenciamento da UHE São Luiz do Tapajós, audiência sobre Concessão Florestal, cancelamos a audiência sobre a Ferrogrão e estamos muito atentos à tentativa de imposição de hidrelétricas no rio Cupari e de retomar o projeto da UHE Jatobá. Não participamos da concepção disso que os pariwat chamam de "desenvolvimento" e se os políticos e empresas continuam nos excluindo desse processo e planejando nosso extermínio, declaramos que continuaremos em guerra. Vamos lutar até o último Munduruku contra a destruição do Tapajós e de nossas florestas.

Sawe! Sawe!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MTV Solidário: "Alimentando Esperança nos Territórios do Tapajós“ distribui cestas alimentícias e kits de higiene em bairros periféricos de Santarém

“Há um tempo só de paixão, grito e ternura Clamando as mudanças que o povo espera”                 (Trecho da música Canta Francisco) Acreditamos que esse tempo é agora e precisamos agir. Ficar de braços cruzados enquanto milhares de pessoas morrem, ou por conta desse vírus que se alastrou mundialmente, ou pela ausência de um prato de comida digno não vai resolver nada. É preciso usar esses braços para fortalecer a luta e alimentar a esperança daqueles que necessitam. Quantos trabalhadores e trabalhadoras ficaram sem os seus empregos, ou até mesmo sem os famosos “bicos”, que de alguma forma sustentavam os seus familiares. Observamos que ao longo desse processo muita iniciativas de solidaried ade foram or ganizadas, e nós do Movimento Tapajós Vivo, não   poderíamos ficar de fora, mobilizamos as nossas redes, articulamos as parcerias, e cá estamos com o MTV Solidário: "Alimentando Esperança nos Territórios do Tapajós“ que já iniciou a distribuição de aproximadamente 600 cest

Núcleo da Pastoral do Menor no Bairro Mapiri recebe oficialmente Sistema de Energia Solar

Em Santarém, Projeto Tapajós Solar entrega o sistema fotovoltaico do Centro Educacional da Pastoral do Menor, núcleo do bairro Mapiri. Por: Allan Hills O Centro Educacional Comunitário Pe. João Mors da Pastoral do Menor, núcleo da Comunidade Menino Jesus do Bairro Mapiri, município de Santarém - PA já possui seu próprio sistema de energia fotovoltaico. A instalação foi uma iniciativa do Projeto Tapajós Solar, que verificou a grande necessidade da entidade, que sofria com o alto custo da energia elétrica. O núcleo atende famílias consideradas carentes no bairro, e desenvolve diversas atividades com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Vale ressaltar, que cerca de 21 voluntários são responsáveis pela realização de ações no espaço. Dona Rosely Gama Viana, coordenadora do núcleo, considera de grande relevância receber a instalação do sistema solar, pois são uma instituição sem fins lucrativos, que dependem principalmente de doações para realizar atividades. "

CEFT-BAM é comtemplado com energia limpa e sustentável

A entidade que atende trabalhadores da região do Baixo Amazonas recebeu oficialmente o sistema de energia fotovoltaico   Por: Allan Hills Equipe do MTV realiza entrega do sistema de energia solar ao presidente do CEFT-BAM O Projeto Tapajós Solar é uma das diversas ações desenvolvidas pelo Movimento Tapajós Vivo em defesa do território e do meio ambiente, que consiste na implantação de sistemas fotovoltaicos, apresentando assim, uma alternativa de energia limpa e sustentável para salvar o rio Tapajós e manter a soberania das populações tradicionais.    Desde o ano de 2019, o projeto segue instalando o sistema de energia solar em várias entidades e instituições sociais que lutam em defesa do território. Uma dessas entidades é o Centro de Estudos, Pesquisas e Formação dos Trabalhadores do Baixo Amazonas (CEFT-BAM), que nesta quinta-feira (13 de maio) recebeu oficialmente o sistema fotovoltaico da equipe do Projeto Tapajós Solar.    O CEFT-BAM foi fundado no dia 20 de janeiro de 1990 e fic