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Nossa Voz é Nossa Vida

Mural feito por Maximino Cerezo Barredo na Catedral de São Felix do Araguaia 
Por Padre Edilberto Sena

Hoje os cristãos no mundo todo celebram a páscoa de Jesus Cristo, sua passagem da vida mortal para a vida permanente. Tal memória quer nos avisar que nossa vida permanente está garantida pelo ressuscitado, desde que sigamos fielmente as bem aventuranças ensinadas pro ele. Seguir tal caminho implica enfrentar desafios sérios, como ele enfrentou, até a morte cruel na cruz.
Em certo momento ele nos avisa, que quem de nós assumir firme as bem aventuranças poderá ser caluniado, perseguido e até morto, como ele mesmo enfrentou, mas não será abandonado por ele. Portanto, nós que neste dia cantamos aleluia e batemos palma para o ressuscitado, estejamos conscientes de que não podemos celebrar sem assumir o compromisso.
Jesus venceu Herodes, Caifaz, Pilatos e o império romano, mas esses filhos das trevas estão aqui travestidos de poderes, econômico, político, falsos líderes populares. São comandados pela ambição de poder e riquezas, oportunismos e hipocrisias. Você consegue identificar alguns?
Em Barcarena, próximo de Belém, o império empresarial da Hidro Alunorte, causou terrível envenenamento do rio Pará, prejudicando vidas de 60 mil moradores ribeirinhos. Quando os pobres se organizaram em associação para exigir seus direitos, dois de seus líderes foram assassinados recentemente. Oficialmente nem a polícia, nem a empresa identificou os criminosos. Mas você entende quem estava por trás da perseguição deles, não é?
Há poucos dias, em Anapu, também aqui no Pará, grileiros de terras e um pelotão da polícia fizeram teatro filmado na rodoviária de Anapu. Prenderam padre Amaro, vigário da paróquia local, membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e seguidor da missão deixada por irmã Dorothy, assassinada 12 anos atrás. O sindicato dos latifundiários do Pará, Faepa publicou uma nota de ataque grosseiro e ofensivo à Igreja Católica, por conta da prisão do padre Amaro. Este é chamado de subversivo que se traveste de religioso. Os latifundiários grileiros de terras na região do Anapu, já vem incomodados com a Igreja Católica que defende os direitos dos posseiros, desde os anos da Irmã Dorothy. Não conseguiram matar o padre Amaro, porque o assassinato da freira profeta causou repercussão nacional e internacional. Então cavaram um esquema para desqualificar o vigário profeta que lutou todos esses anos na defesa dos posseiros. Assim foi o teatro armado neta semana santa. Jesus Cristo se encarnou no corajoso vigário de Anapu, caluniado, perseguido e preso. Como já alertava Jesus – Se me chamaram de Belzebu, o que não dirão de vocês meus seguidores. Naquela semana santa eram Herodes, Doutores da lei, sumos sacerdotes, Pilatos e a turma dos submissos. Hoje, em Barcarena, Anapu, Santarém e tantos lugares, esses personagens tem outros nomes. A paixão de Cristo é mais que um teatro juvenil, é real.
O que você e eu temos a fazer diante dessa guerra declarada de latifundiários, grileiros, e seus acólitos, polícia, governantes e ditas autoridades comprometidas com tais crimes? Cruzar os braços? Ficar indiferentes? Em quem acreditar? No sindicato dos latifundiários, a FAEPA? Ou acreditar no bispo Dom Erwin, que apoia padre Amaro há tantos anos? Vamos acreditar numa notícia arranjada da televisão, ou no depoimento da Pastoral da Terra, que defende o padre Amaro em sua luta pelos excluídos? Lembremos do que dizia o grande bispo Dom Helder Câmara – “se deu uma ajuda a um pobre me chamam de cristão, se defendo os excluídos me chamam de comunista”. Assim foi Jesus acusado pelos líderes religiosos diante de Pilatos – “ele é subversivo”. Hoje, ao celebrarmos a memória da ressurreição de Jesus, temos que ir além dos cantos e da cerimônia. Temos que levar a sério as bem aventuranças deixadas por Jesus. Que você acha?

Este artigo foi escrito por Edilberto Sena para ser transmitido pela Rádio Rural de Santarém no domingo de Páscoa 2018.

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