O Grito Ancestral que já está em sua 4ª edição reúne indígenas do Baixo Tapajós, militantes e lutadores sociais.
Por: Allan Hills
Ritual dos Tupinambás |
O Rio Tapajós é vida, faz parte do corpo e do espírito dos ancestrais e daqueles que até os dias de hoje habitam nas suas margens. As águas que alimentam e também conduzem o povo, sempre foram motivo de orgulho. Tão grandioso e tão cheio de vidas, impossível seria pensar que toda essa exuberância um dia estaria sobre ameaças.
Infelizmente, o tempo aos poucos veio trazendo a ganância e o risco para a vida na beira do rio. Viver e se esbaldar nas águas do majestoso Tapajós virou um ato de resistência. E é assim que a cada dia o povo tupinambá encontra forças dos ancestrais para não deixar o rio morrer.
O futuro do Rio Tapajós, dos seus povos e de suas culturas estão sobre ameaças dos grandes projetos planejados para a região, que só pensam na destruição e no lucro. O povo indígena Tupinambá, que sempre teve o rio como fonte de vida, encontrou uma forma de alertar o mundo de que seu território está em risco. Com isso, há quatro anos passaram a ecoar o Grito Ancestral do Povo Tupinambá, sempre na época da vazante das águas.
Indígena preparado para paralisar as balsas |
Em 2021, o ato aconteceu durante três dias, na segunda semana de novembro, na margem esquerda do rio Tapajós, na comunidade Pau da Letra – Vila de Boim, município de Santarém - PA. O objetivo é alertar sobre as ameaças ao território do Tapajós, que afeta diretamente não só o povo tupinambá, mas todas as populações que dependem do rio.
Uma das formas de chamar atenção é através da paralisação das balsas que trafegam o rio carregadas de madeira, soja e muitos outros produtos. Para isso, os tupinambás convidam outros parentes indígenas, movimentos sociais, lutadores sociais e apoiadores para juntos embarcarem na aventura de encarar os transportadores das balsas.
Indígenas erguem faixas em defesa do rio Tapajós |
Com cantos indígenas, gritos de ordem pela defesa do rio e de forma pacífica, todos os participantes vão em barcos, canoas e bajaras até o meio do rio, dialogam com a tripulação e após negociação adentram nas balsas e erguem faixas que representam toda a luta em defesa da vida do Rio Tapajós.
A indígena Estévina Melo Tupinambá, de 61 anos de idade, é da aldeia Cabeceira do Amorim, participou do ato e falou da importância do grito dos ancestrais para a luta em defesa do rio e das florestas.
“O nosso grito ancestral é pela luta na defesa do nosso rio, da nossa floresta e da nossa Amazônia. Então essa nossa ação está bem sucedida e a gente espera que este grito também seja levado para nossas aldeias e que nossos parentes se sintam gratos por isso. Nós conseguimos parar as balsas e levar a mensagem de proteção do rio Tapajós”
A indigena Estévina ainda destacou a felicidade de poder participar da abordagem e paralisação das balsas.
“Eu me sinto muito feliz de a gente sair, pegar as bajaras, fazer a abordagem e paralisar as balsas no meio do rio, e entoar nossos cantos de resistência. Mostrar nossas faixas e dizer que somos guerreiros de luta em defesa da nossa Amazônia.”
Esta é a 4ª Edição do Grito dos Ancestrais do Povo Tupinambá. Além de representantes das 21 aldeias indígenas do povo tupinambá, outros povos da região estiveram participando, como os arapiuns, boraris e kumaruaras.
Durante o ato, estiveram também presentes representantes do Movimento Tapajós Vivo(MTV), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Conselho Indigena Tapajós Arapiuns (CITA), Conselho Indígena Tupinambá do Baixo Tapajós (CITUPI), comunicadores populares e coletivos de comunicação, entre outros.
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